Por Luiz Moraes*
Ilustração: Gustavo Palermo

 

Acordava todo dia com o pé direito. Se era assim que se iniciava bem o dia, quereria que todos os dias iniciassem bem.


Lavava o rosto, escovava os dentes, e sempre, em frente ao espelho, tinha o prazer em ver os braços subindo ao alto para encaixar o boné vermelho do MST em sua cabeça.


A luta era sua vida e sempre depois que acordava, sua vida era a própria luta.


Carregava nos ombros a responsabilidade de seguir segurando a bandeira na luta pela conquista de seus direitos que foram roubados.


– Ô Pedrinho? Chamavam do lado de fora de sua casa


Saiu para ver. Ouviu os seis disparos que lhe furaram o corpo. Antes de se converter em terra, viu o rosto de seus assassinos: três capangas de fazendeiros, um policial militar e um guarda municipal. Olhou para o filho de seis anos e morreu.


A região, a terra e a comunidade em volta, naquele momento gritavam que estavam de luto, mas também de luta.

 

 

*Luiz é militante do Levante Popular da Juventude no município de Jaboticabal, no interior de São Paulo.