Organizações pedem pela punição dos torturadores da Ditadura Militar
Nesta quarta foi entregue o relatório final da CNV. Agora, diversas organizações esperam pela responsabilização de agentes do Estado pelas violações aos direitos humanos.
Da Página do MST
Na manhã deste dia 10 de dezembro, data que coincide a aprovação, pelas Nações Unidas, da Declaração Universal dos Direitos do Homem, os seis integrantes da Comissão Nacional da Verdade (CNV) entregaram o relatório final à presidenta Dilma Rousseff. À tarde, o documento será entregue ao Congresso e ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Sem dúvida, todo esse processo de pesquisa elaborado pela CNV desde quando fora instalada, em maio de 2012, serviu para clarear o que aconteceu de 1964 a 1985, quando o último general-presidente deixou a Presidência da República.
"Se não tem o poder de punir, tem o de revelar fatos históricos, esclarecer dúvidas, apontar culpados e definir o papel de cada um na cadeia de comando do Terror de Estado", disse em sua coluna, dias atrás, o escritor Marcelo Rubens Paiva, filho do deputado Rubens Paiva, desaparecido em 1971. "Acima de tudo, com atraso e sob a proteção da Lei da Anistia, corrigir o erro histórico grave, o de esconder a verdade.
Agora, no entanto, diversas organizações sociais esperam pelo próximo passo: a responsabilização de agentes do Estado por graves violações aos direitos humanos, com as consequentes ações judiciais.
A CNV colheu 1.120 depoimentos, incluindo 132 de representantes do Estado no período, e realizou 80 audiências públicas. O relatório terá aproximadamente 2 mil páginas. O número oficial de mortos e desaparecidos políticos deverá aumentar de 362 para 434.
Abaixo, leia a nota pública pela punição dos torturadores da Ditadura Militar
Nota Pública: Pela punição dos torturadores da Ditadura Militar
As organizações políticas se manifestam para expressar a importância do dia 10 de dezembro de 2014 que marca um esforço concentrado de 2 anos na luta por memória e verdade.
Autoridades, movimentos sociais e entidades de diretos humanos colaboraram nas investigações das violações cometidas pelo Estado brasileiro durante o período da ditadura militar.
Depois de observarmos o atraso ideológico de uma gente que sai às ruas pedindo intervenção militar, constatamos que vivemos em um período de polarização da luta social, e nos colocamos diametralmente opostos a estes sujeitos. Somos favoráveis ao aprofundamento radical da democracia em nosso país.
O relatório produzido pela Comissão Nacional da Verdade, assim como as recomendações ao Estado brasileiro, devem deflagrar um novo período de lutas aos movimentos sociais que atuam contra a impunidade com centralidade na luta pela Justiça.
Esse processo coloca em evidência a necessidade do Estado brasileiro, através da Presidência da República, executar a sentença da Corte Interamericana de Direitos Humanos que prevê a punição dos agentes de Estado responsáveis por crimes de tortura. Dessa forma, daria vazão à principal bandeira dos movimentos em luta pela justiça que é a superação da lei de anistia, possibilitando o fim da impunidade.
A dívida histórica do Estado brasileiro com a justiça ameaça a democracia sempre que o aparato repressivo atua com sua estrutura atrasada de uma polícia militarizada e com um método defasado que aterroriza a sociedade.
Existe uma relação intrínseca entre a impunidade dos torturadores, a violência policial e o sistema político vigente com o processo inacabado de democratização do país. A violência do Estado que perseguiu, torturou e matou centenas de militantes políticos é a mesma que hoje possui em sua estrutura os autos de resistência que é um dos instrumentos que tem justificado o extermínio da juventude pobre, em especial negra, nas periferias das grandes cidades.
O sistema político que sustentou a ditadura militar de 64 a 85 deu lugar a um modelo que bloqueia a participação social e não tem condições de operar as reformas necessárias para o país. Daí vem a necessidade de se fazer uma profunda reforma do sistema político que só acontecerá com pressão social por meio de uma Constituinte Exclusiva e Soberana.
A execução da sentença da CIDH é o próximo passo na luta pela justiça, que viabilizará a punição dos torturadores e o fim da impunidade que assombra nosso presente de lutas pela emancipação nacional.
Assinam esta nota:
- Levante Popular da Juventude
- Artur Machado Scavone
- Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais – ABGLT
- Campanha “Por que o Senhor Atirou em mim?” - SP
- Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil - CTB
- Central Unica dos Trabalhadores - CUT
- Celio Turino - historiador
- Coletivo Arrua
- Coletivo Nacional de Juventude Negra – ENEGRECER
- Coletivo Mudança
- Coletivo Quilombo
- Coletivo O Estopim
- Conceição de Oliveira - Blogueira
- Consulta Popular
- Douglas Belchior – Liderança do Movimento Negro
- Intersindical – Central da Classe Trabalhadora
- Esquerda Popular Socialista - EPS
- Federação Única dos Petroleiros – FUP
- Fora do Eixo
- Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação
- Heloisa Fernandes - Socióloga
- Jean Tible – Professor USP
- Juliana Cardoso - vereadora SP
- Juventude do PT – JPT
- Laymert Garcia dos Santos – Professor Titular (aposentado) UNICAMP
- Lincoln Secco - Professor do Departamento de História da USP
- Luiz Carlos Azenha – Jornalista e Blogueiro
- Marcha Mundial de Mulheres - MMM
- Movimento dos Atingidos por Barragens – MAB
- Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST
- Midia Ninja
- Nabil Bonduki – vereador SP
- UNEAFRO
- Rede Ecumênica da Juventude - REJU
- Rodrigo Vianna – Jornalista e Blogueiro
- Sindicato Unificado dos Petroleiros de São Paulo
- Stella Senra – Professora Aposentada